Carta 39 publicada a 27 maio 2013

OUTUBRO 2013: DOM FERNANDO RIFAN COM O POVO SUMMORUM PONTIFICUM EM ROMA



Esta semana deter-nos-emos sobre a próxima peregrinação do povo Summorum Pontificum a Roma. Serve-nos de pretexto o anúncio pelos organizadores do seu programa provisório. Daremos também a palavra a Giuseppe Capoccia, delegado geral do Cœtus Internationalis Summorum Pontificum, que organiza o evento. Seguem-se estes dois documentos com os nossos comentários.



I – PROGRAMA PROVISÓRIO A PEREGRINAÇÃO DO POVO SUMMORUM PONTIFICUM A ROMA, OUTUBRO DE 2013


Este ano, além da procissão e da missa em São Pedro, teremos como tempos fortes da peregrinação a Via Crucis pelas ruas de Roma, sexta-feira, e a missa de encerramento, no domingo, dia de Cristo-Rei, a ser celebrada por Dom Fernando Rifan, bispo da Administração Apostólica de São João Maria Vianney de Campos, no Brasil.

:: Quinta-Feira 24 de Outubro, à tarde: vésperas solenes de São Rafael e acolhimento dos peregrinos na paróquia da Trinità dei Pellegrini

:: Sexta-Feira 25 de Outubro, às 8 horas : Terço em Santa Maria Maior, seguido de visitas culturais e devocionais organizadas por grupos linguísticos

:: Sexta-Feira 25 de Outubro, às 17 horas: Via Crucis pelas ruas de Roma, guiada pelos membros da Obra Família Christi do Ricardo Petroni, a obra que tem a seu cargo a missa dominical no Palácio Altemps

:: Sexta-Feira 25 de Outubro, às 19 horas: Missa Pontifical na igreja da Trinità dei Pellegrini

:: Sábado 26 de Outubro, a partir das 8 horas : Adoração eucarística na igreja de São Salvatore in Lauro, seguida da procissão até à Basílica de São Pedro, onde se celebrará a Missa Pontifical, às 11 horas.

:: Domingo 27 de Outubro, pela manhã : Missa Pontifical da festa de Cristo-Rei, celebrada por Dom Fernando Rifan, Administrador da Administração Apostólica São João Maria Vianney de Campos (Brasil).

Os organizadores anunciam ainda outras atividades, entre as quais um concerto na igreja da Trinità dei Pellegrini e, para quem se inscrever antecipadamente, encontros para os sacerdotes e para os leigos durante o sábado à tarde.

O programa completo será apresentado na conferência de imprensa que terá lugar em Roma, a 26 de Junho. Graças ao apoio da Opera Roma Pellegrinaggi, mais tarde dar-se-ão informações precisas para facilitar a organização da viagem dos peregrinos e o seu alojamento.



II – ENTREVISTA A GIUSEPPE CAPOCCIA, delegado geral do Coetus Internationalis Summorum Pontificum [*] [*]


De seguida, apresentamos a versão portuguesa da entrevista dada a Alessandro Speciale, do Vatican Insider, pelo delegado geral do Coetus Internationalis Summorum Pontificum, que organizou da peregrinação a Roma.


1. Qual é a opinião do povo Summorum Pontificum acerca da eleição do Papa Francisco e sobre os seus primeiros meses de pontificado?

Como tantos católicos, também nós ficámos desconcertados com a renúncia do nosso bem-amado Papa Bento XVI. E esta eleição de Francisco, até então muito pouco conhecido, foi também para nós uma surpresa. Por isso, desde esse momento que temos estado muito atentos a cada um dos seus gestos e a cada uma das suas palavras.
E devo dizer que as suas palavras logo nos vieram tranquilizar: falou do diabo que se agita contra nós, mas que nada pode contra a misericórdia divina; convidou-nos a não perdermos a confiança no amor de Deus; apelou-nos para que “saiamos” da nossa rotina para chegarmos às periferias da existência; e pôs-nos de sobreaviso contra o risco de nos tornarmos “colecionadores de antiguidades ou de novidades, em vez de sermos pastores que têm entranhado o ‘cheiro das ovelhas’, em vez de sermos pastores no meio do seu próprio rebanho, e pescadores de homens”.

Toda e cada uma das homilias do Papa Francisco nos chamam a viver com uma maior intensidade e coerência a nossa vida cristã. O povo Summorum Pontificum não pode não apreciar e acolher esta chamada. De facto, é precisamente por causa do desejo de renovar e de alicerçar a nossa vida espiritual que muitos de entre nós escolheram viver a sua fé ao ritmo da liturgia tradicional. Como bem o tinha compreendido Bento XVI, somos muitos os que procuramos Cristo através de uma liturgia mais digna e impregnada dum maior sentido do sagrado.


2. Que pensa do seu estilo litúrgico? Será que o seu pontificado está a tomar uma direção oposta à do de Bento XVI?

Seria hipócrita negar que se, por um lado, as palavras de Francisco nos dão coragem, por outro, alguns dos seus gestos são desconcertantes. Compreendemos que alguns possam exprimir um certo mal-estar, mas, enquanto fiéis sensíveis à tradição, e por conseguinte atentos ao longo prazo, queremos evitar cair na armadilha do imediatismo. O Papa atual vem de uma cultura litúrgica e pastoral diferente da que é praticada em Roma e é preciso dar-lhe o tempo necessário para que se aproprie da tradição litúrgica pontifícia.

Além disso, não há que reduzir a liturgia a uma questão de estilo, pois aquilo que deve prevalecer é a solidez e o valor teológicos do próprio rito. Enfim, é evidente que cada pontificado tem as suas especificidades. Se é verdade que Bento XVI considerava a crise da liturgia como causa e reveladora da crise da Fé, também não nos parece que Francisco manifeste o contrário disso. Basta pensar à grande publicidade que se tem dado, com a permissão do próprio Papa, à sua missa quotidiana na Casa Santa Marta, e ao modo como ela faz ecoar um claro apelo a todos os católicos, sacerdotes e leigos, para que tomem consciência de que apenas a Eucaristia é a fonte da evangelização.


2bis. Há correntes no mundo tradicional que são muito críticas em relação ao Papa, a começar pela FSSPX : o que nos pode dizer sobre disso?

Mais do que verdadeiras críticas, no sentido de críticas doutrinais, o que temos lido e ouvido têm sido sobretudo incompreensões e inquietudes. E preciso dizer que frequentemente se trata de reações fundadas em informações erradas, como a que anunciava o afastamento do atual Mestre de Cerimónias pontifício ou a nomeação do seu predecessor para chefiar a Congregação para o Culto Divino! Infelizmente, a internet favorece reações a quente que vêm alimentar aquela embriaguez que vem da noção de se saber escutado pelo mundo inteiro.
No que se refere à Fraternidade São Pio X, as suas declarações oficiais pareceram-nos bem ponderadas e prudentes. Contudo, não nos surpreende que haja quem tenha perdido a mão e tenha acabado por fazer alguns comentários mais duros, mas as razões disso talvez se devam procurar mais nas rivalidades internas da Fraternidade do que numa real desconfiança em face do Santo Padre.


3. Como foi acolhida a peregrinação precedente e por que motivo voltam a fazê-la este ano?

No ano passado quisemos dar testemunho da nossa comunhão de Fé e da nossa proximidade em relação ao Papa Bento XVI, o Sumo Pontífice que voltou a dar à liturgia tradicional o seu lugar de pleno direito. Também foi nossa intenção mostrar a existência de um povo Summorum Pontificum no seio do grande rebanho católico; um povo que exprime a sua alegria de fazer parte, de corpo inteiro e de pleno direito, da Igreja Católica, apostólica e romana. A nossa iniciativa foi também uma maneira de participarmos na Nova Evangelização desejada por Joào Paulo II e por Bento XVI. Por fim, também queríamos poder ajudar ao retorno da FSSPX a Roma.

Como acontece frequentemente com as iniciativas novas, houve alguns dos nossos amigos que nos olharam com desconfiança, mas o Cardeal Cañizares, prefeito da Congregação para o Culto Divino, e o Santo Padre mostraram-nos a sua estima: o primeiro declarando, antes de celebrar em São Pedro, que o ia fazer muito simplesmente porque era “algo de normal”; o segundo enviando-nos uma mensagem de boas-vindas por meio do Cardeal Secretário de Estado.

Este ano, é nosso desejo reafirmar a nossa plena disponibilidade para o desafio da Nova Evangelização. Em vários aspectos, o povo Summorum Pontificum assemelha-se aos novos movimentos nascidos depois do Concílio Vaticano II, fruto de uma maior tomada de consciência do papel dos leigos na vida da Igreja: nele se encontram muitas famílias, muitas delas numerosas, e é caracterizado por um grande dinamismo pastoral, além de ser fermento de múltiplas vocações tanto religiosas como sacerdotais. Parece-nos, portanto, que seria importante que um tal recurso fosse aproveitado ao máximo, tanto nas dioceses como nas paróquias.


4. De quantas pessoas estão á espera?

Contamos com 3000 pessoas no sábado, que é o dia da procissão e da missa em São Pedro, de entre as quais, pelo menos 500 peregrinos de fora da Itália que virão até nós para os três dias da peregrinação. Pelos finais de Junho, já teremos uma ideia mais precisa dos números, isto é, no momento em que apresentaremos o programa oficial.


5. O que é que pretendem manifestar perante o mundo católico em geral com esta vossa iniciativa?

Durante estes anos, os fiéis e os sacerdotes ligados à tradição litúrgica da Igreja foram marginalizados e tratados com desprezo, quando não com raiva, sendo mantidos na periferia da Igreja, e ai de quem deles se aproximasse. O que desejamos é poder contribuir para que sejam definitivamente saradas as feridas provocadas ao longo destes anos de perseguição e injustiça, e parece-nos mais oportuno fazê-lo integrando-nos nesta nova dinâmica que nos propõe o Papa Francisco e a Igreja, ao invés de apostar em reivindicações. Queremos poder dar testemunho da unidade da Igreja, com alegria e em espírito de serviço.

No quadro particular deste novo pontificado, gostaríamos também de poder ilustrar até que ponto a forma extraordinária do rito romano é um instrumento adaptado para a redescoberta dessa pobreza a que nos chama o Papa Francisco: ajoelhar-se, suplicar, calar-se, confessar, são quatro atitudes características da pobreza interior e também da missa tradicional. A redescoberta do que São Francisco afirmava acerca da liturgia – não esqueçamos que foi ele que deu a conhecer o missal romano fora da corte papal – poderia ajudar-nos a compreender ainda melhor em que consiste a pobreza cristã, a pobreza espiritual que faz de nós como que mendigos de Cristo, Ele que vem ao nosso encontro na liturgia e nos oferece o Seu esplendor, abrindo-nos as portas do Céu, que é onde se encontra a verdadeira riqueza. Não é um acaso que o último santo a ter celebrado a missa tradicional toda a sua vida seja o Padre Pio, imagem fiel de São Francisco.

Nas dioceses e nas paróquias, há muitos fiéis à procura de um alimento que lhes podia chegar através da forma extraordinária do rito romano; porém, eles não a conhecem, e muito frequentemente, nem sequer chegam a ter a oportunidade de a conhecer pois há quem pense que ela está inadaptada à nossa época, que ela não é “popular”, ou seja, que é elitista e um pouco snob. No entanto, a contínua novidade da liturgia tradicional tem ainda muito para dar à Igreja: é neste sentido que a nossa peregrinação é um sinal importante não apenas para o povo Summorum Pontificum, mas também para todos, em especial nestes tempos de Nova Evangelização.



III – AS REFLEXÕES DA PAIX LITURGIQUE


1)  Depois da missa do Cardeal Brandmüller no encerramento do colóquio sobre o Motu Proprio organizado pelo Padre Nuara, em Maio de 2011, e da missa do Cardal Cañizares a 3 de Novembro passado, por altura da primeira peregrinação “Una cum Papa nostro”, o anúncio de uma terceira missa pontifical no altar da Cátedra da Basílica de São Pedro no espaço de três anos, é um sinal de que está a nascer uma tradição romana . Se a isso acrescentarmos que, todas as manhãs, várias são as missas celebradas segundo o missal do Beato João XXIII na Basílica de São Pedro, em Roma, tanto por sacerdotes da Cúria como por sacerdotes em peregrinação ad Petri Sedem, não será exagero dizer que, no Vaticano, a forma extraordinária do rito romano, de extraordinário não tem nada.


2)  Ainda que este ano os organizadores nos digam que querem pôr em destaque as paróquias pessoais erigidas para a forma extraordinária do rito romano, muito nos apraz verificar o facto de que, no mesmo espírito da peregrinação de Chartres, também esta seja concebida como uma peregrinação para todos, na medida em que é dirigida a todos os fiéis, sacerdotes ou seminaristas, qualquer que seja o seu estatuto ou a comunidade a que pertença.


3)  O desejo de pôr em primeiro plano as paróquias pessoais corresponde à intenção dos organizadores de vir mostrar que, no espírito e na letra do Motu Proprio Summorum Pontificum e da Instrução Universæ Ecclesiæ, a liturgia tradicional faz todo o sentido no âmbito do quadro pastoral normal. É por essa razão que neste Ano da Fé, decidiram convidar Dom Fernando Rifan, que é o bispo daquela que, até à presente data, é a única “diocese pessoal” criada para a forma extraordinária do rito romano.
Pouco conhecida fora do Brasil, a Administração Apostólica São João Maria Vianney nasceu na diocese de Campos, que teve como corajoso bispo, entre 1949 e 1981, Dom Antônio de Casro Mayer – co-consacrante, com Mons. Lefebvre, dos quatro bispos da FSSPX em 1998 . A comunidade tradicional de Campos foi regularizada pela Santa Sé em 2002 com a ereção de uma Administração Apostólica, contando com cerca de trinta sacerdotes, uma centena de locais de missa, 24 escolas e cerca de 30.000 fiéis. Dom Fernando Rifan é o sucessor do primeiro Administrador Apostólico de Campos, Dom Licínio Rangel, que morreu logo após a assinatura dos acordos com Roma.


4)  Sem querer dar por certo ou tentar adivinhar o conteúdo das conferências da tarde de sábado, ou do eventual concerto, fazemos todavia notar que o programa que agora nos é comunicado pelos organizadores é este ano mais rico, contendo, por exemplo, visitas organizadas por grupos linguísticos na sexta-feira de manhã e a Via Crucis, que, segundo as informações de que dispomos, deverá realizar-se na colina do Palatino. Além disso, e trata-se de uma boa notícia para todos os estrangeiros, a peregrinação deverá contar com o apoio da Opera Romana Pellegrinaggi, uma instituição especializada no acolhimento dos peregrinos nas margens do Tibre.



[*] Giuseppe Capoccia, magistrado de Lecce, na Puglia, veio ocupar o lugar de Riccardo Turrini Vita, alto funcionário italiano que foi chamado por Bento XVI para as funções de juiz do Tribunal de Apelação da Cidade do Vaticano. Giuseppe Capoccia è um dos animadores da Escola Ecclesia Mater.




Dom Fernando Rifan