Carta 47 publicada a 24 março 2014

PAPEETE DESCOBRE AS VANTAGENS DO SUMMORUM PONTIFICUM


Graças à dedicação de algumas famílias e ao zelo de um jovem sacerdote missionário, os habitantes de Papeete (capital da Polinésia Francesa, na ilha de Tahiti), durante o tempo natalício, puderam beneficiar da missa tradicional e da respectiva pastoral. Com o consentimento compreensivo do Administrador Apostólico, a capela do Paço Episcopal foi ela própria o cenário para a celebração quotidiana da forma extraordinária do rito romano, de meados de Dezembro a meados de Janeiro passados. A experiência foi um sucesso. Uma prova mais, caso fizesse falta, da universalidade da liturgia tradicional.


I – Um mês de graças

Em Julho de 2013, algumas famílias de Papeete, juntamente com um sacerdote, dão mostras do seu desejo de poder beneficiar da aplicação do Motu Propiro Summorum Pontificum, e como este os convida a formular o seu pedido por escrito, é isso mesmo que decidem fazer a 18 de Setembro de 2013. A carta é então assinada por uma dezena de famílias.

Já tinha entrado Outubro, quando o sacerdote destinatário do pedido aparece a informar os fiéis que, tanto quanto era do seu conhecimento, na região polinésia, não havia sacerdotes com aptidões para satisfazer o pedido. Todavia, ele próprio se declara disposto a receber formação para a celebração da liturgia tradicional, o que infelizmente não poderia acontecer antes da sua próxima estadia em França, em meados de 2014. De facto, tinha então passado tanto tempo desde que o Missal do Beato João XXIII deixara de ser utilizado na ilha, que já não havia por lá nenhum sacerdote capaz de o poder ajudar a voltar a usá-lo.

Alguns dias depois, os fiéis são recebidos pelo Administrador Apostólico, Mons. Chang Soi, para lhe comunicar o seu projecto de trazer de fora durante algumas semanas um sacerdote que celebrasse na forma extraordinária. Mons. Chang Soi logo se declara pronto a acolher a iniciativa com agrado, e aos fiéis não restava senão encontrar o dito sacerdote.

Foi então que estas famílias se lembraram de dar a conhecer o seu desejo com um anúncio na nossa Carta: “Famílias residentes na Polinésia Francesa, no Tahiti, e ligadas à liturgia tridentina, procuram um sacerdote para celebrar a missa e administrar os sacramentos segundo a forma extraordinária do rito romano e administrar os sacramentos durante o período de Natal e, sucessivamente, por curtos períodos. Seria necessário prever ter de ficar por algum tempo no local e ter em conta também as exigências de aclimatação (estação quente e húmida) e da diferença horária (12 horas em relação à metrópole). Ideal para um sacerdote que precise de um tempo de repouso. Caso as famílias não consigam custear o bilhete de avião na sua totalidade, propõem-se ainda assim contribuir na medida do possível e estão à procura de associações que possam aceitar oferecer donativos para financiar as despesas da viagem e da estadia que estas deslocações comportarão”.

“Ajuda-te a ti mesmo, que Deus te ajudará”: quinze dias depois, a demanda teve sucesso e os fiéis apressam-se a informar o Administrador Apostólico, o qual logo se dispôs a oferecer a capela do Paço Episcopal.

Chega o dia 24 e as famílias de Papeete podem enfim viver o seu belo conto de Natal, com a alegria de poderem assistir à Missa do Galo segundo a forma extraordinária do rito romano. Uma Missa do Galo tradicional no coração do Oceano Pacífico. Aí está o primeiro resultado permitido pelo Motu Proprio de Bento XVI: os esforços envidados por famílias valorosas, conjugados com o bom senso de um Ordinário e com o zelo missionário de um jovem sacerdote vindo da França continental.

Mas ainda não é tudo. Eis que temos agora a alegria de vos poder apresentar o balanço deste mês de descoberta do Summorum Pontificum em Papeete, tal como nos foi transmitido:

― no total, mais de 140 pessoas assistiram à missa de São Pio V, das quais quase a metade eram não praticantes, isto é, não católicos (protestantes, adventistas), entre franceses da metrópole e autóctones. Se alguns reencontraram a missa da sua infância, outros houve que, muito simplesmente, foram aí descobrir esta missa;

― cerca de 25 pessoas assistiram todos os dias à santa missa (fosse ela cantada ou lida) e, no último domingo, havia mais de 60 fiéis;

― foram ministrados cinco “complementos” de baptismos (realização de cerimónias omitidas anteriormente);

― um adulto pediu para receber a preparação para o baptismo e um casal pediu a preparação para o matrimónio e, ainda, que o mesmo fosse celebrado segundo a liturgia tradicional;

― uma abjuração de um protestante foi acolhida;

― organizou-se um encontro com seis sacerdotes da diocese para que pudessem conhecer a liturgia tradicional, explicar-lhes as suas razões e ilustrar-lhes as respectivas vantagens;

― um desses sacerdotes, depois de assistir a uma das missas dominicais, tendo ficado muitíssimo tocado pela liturgia, pediu para aprender a celebrar a forma extraordinária;

― houve vários encontros com o Administrador Apostólico, um dos quais com uma delegação de fiéis que expuseram os seus testemunhos, e um com o Bispo Emérito, Mons. Coppenrath, de 83 anos, ainda ao serviço da diocese nas funções de exorcista;

― tendo percebido a importância que esta missa tem para algumas das suas ovelhas, o Administrador Apostólico exprimiu o voto de que esta forma litúrgica possa vir a celebrar-se aí de modo estável;

― 900 documentos foram impressos e distribuídos pelos fiéis, entre pequenos catecismos, livretes de orações e o ordinário da missa em latim e francês, tudo com vista a uma ampla acção pastoral de divulgação;

― teve lugar um curso de catecismo para crianças, com a participação regular de crianças que, “largando tudo”, foram voltando nas vezes seguintes;

― as famílias puderam ter a bênção das suas casas, receberam a imposição do escapulário do Monte Carmelo e participaram de uma recolecção dominical dedicada ao tema da família e da educação;

― houve uma conferência sobre o papel dos católicos na sociedade civil;

― e até uma “crêperie” … foi publicamente benzida.

Sem contar com o impacto de um sacerdote que, pela batina, era logo reconhecido quando passava nas ruas, o que permitiu que pudesse ter muitas conversas com os habitantes locais. Em suma, um belíssimo êxito pastoral!





II – As reflexões da Paix liturgique


1) Um ano após o final do pontificado de Bento XVI, os frutos do Summorum Pontificum continuam a aparecer. O que se passou em Papeete mostra bem o quanto o Papa anterior foi visionário, quando, na sua carta de 7 de Julho de 2007, decidiu convidar os bispos de todo o mundo a “darem o justo lugar” às “riquezas que foram crescendo dentro da fé e da oração da Igreja”. Ao responder favoravelmente ao pedido dos fiéis de Papeete, o Administrador Apostólico estava de facto a responder a este convite de Bento XVI. E segundo afiançam os nossos correspondentes, não teve qualquer motivo para se arrepender dessa sua decisão.


2) Este extraordinário mês no Tahiti ilustra à perfeição toda a potencialidade missionária da missa tradicional. É por isso que muitos dos que a encorajam a vêem como um valioso instrumento ao serviço da nova evangelização. Nesse sentido, contudo, convém não se contentar com a missa e pôr também à disposição tudo o que a acompanha. Se acontece, por vezes, certas aplicações do Motu Proprio não “levantarem voo”, em geral, é porque não são acompanhadas de uma acção de apostolado. É certo que quando os sacerdotes não residem no local, nem sempre isso é possível, e menos ainda quando há opositores à reforma de Bento XVI que proíbem ao sacerdote e aos fiéis qualquer tipo de publicidade das suas actividades. Apesar disso, é importante que os peticionários tenham presente esta necessária dimensão pastoral e não hesitem em manifestar ao Ordinário local que não é justo, nem é conforme com a caridade, vir impor condições e limites à aplicação do Motu Proprio, mais ainda quando a própria lei da Igreja os não impõe.