Carta 66 publicada a 17 novembro 2015

#SUMPONT 2015: UMA GRANDE COLHEITA

Regressados de Roma, onde uma parte da equipa de Paix Liturgique teve a bênção de poder participar na quarta peregrinação internacional do povo Summorum Pontificum, propomo-vos agora uma selecção de textos que reflectem a intensidade serena e alegre com que foram vividos estes dias, sob a protecção de São Filipe Neri, a começar pelo surpreendente apontamento do “La Croix”, o jornal quotidiano da Conferência Episcopal Francesa, breve mas muito equilibrado.

Num outro jornal diário, desta feita italiano (La Nuova Ferrara), Mons. Negri, arcebispo de Ferrara e Comacchio e abade de Pomposa – que fez a homilia em São Pedro no sábado, 24 de Outubro, perante 200 sacerdotes, uma centena de religiosos e cerca de 2.000 fiéis –, declarou que a liturgia tradicional “reforça a nossa identidade eclesial” e põe-na ao serviço “de uma missão renovada, adaptada aos tempos actuais [e aberta] às reais exigências dos homens de hoje, missão que constantemente nos é lembrada pelo Papa Francisco”.





I – MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO


A Sua excelência Reverendíssima, Mons. Guido Pozzo, Secretário da Comissão “Ecclesia Dei”, por ocasião da peregrinação a Roma do “Cœtus Internationalis Summorum Pontificum”, que mantém viva na Igreja a antiga liturgia romana, o Santo Padre, Papa Francisco, envia as suas cordiais saudações, augurando que a participação neste pio itinerário junto dos túmulos dos apóstolos possa suscitar uma fervorosa adesão a Cristo, celebrado pela beleza da liturgia que faz contemplar o Senhor transfigurado na luz da Sua glória, e possa granjear um renovado enlevo ao testemunho da mensagem perene da fé cristã.

Sua Santidade, invocando os abundantes dons do Santo Espírito e a maternal protecção da Mãe de Deus, pede-vos que persevereis na oração em prol do Seu ministério petrino e, de todo o coração, conforme foi suplicado, envia a Vossa Excelência, aos prelados, aos sacerdotes e a todos os fiéis presentes nesta santa celebração a Sua bênção apostólica, propiciadora de um fecundo caminho eclesial.

Cardeal Pietro Parolin
Secretário de Estado de Sua Santidade


II – O ARTIGO DO “LA CROIX”, DE 27 DE OUTUBRO DE 2015

Em Roma, 1.800 participantes na 4a peregrinação “Summorum Pontificum”
Roma, 27 de Outubro de 2015,
artigo por Gauthier Vaillant

Desde 2012 que esta peregrinação reúne religiosos e fiéis ligados à liturgia segundo o rito de São Pio V. Este ano, ela coincide com o encerramento do sínodo sobre a família.

Como em cada ano, desde 2012, sacerdotes, religiosos e fiéis ligados à liturgia tradicional da Igreja juntaram-se em Roma desde quinta-feira, 22, até domingo, 25 de Outubro, para a peregrinação internacional “Summorum Pontificum”. Esta reunião realiza-se todos os anos, para celebrar o motu proprio que leva o mesmo nome, publicado por Bento XVI, no mês de Outubro de 2007, e que veio liberalizar a celebração da missa na forma extraordinária do rito romano.

“Este ano, a nossa intenção especial versa sobre a família cristã, já que está para se concluir a segunda assembleia do Sínodo dos bispos que a ela se consagra”, anunciou, na abertura da peregrinação, o seu capelão, o Pe. Claude Barthe.

Como já nas vezes anteriores, o momento alto da peregrinação foi a procissão rumo à Basílica de São Pedro, em que participaram 1.800 pessoas, das quais 200 sacerdotes e seminaristas, e que foi presidida por um francês, o Dom Abade Jean Pateau, padre abade da abadia beneditina de Notre-Dame de Fontgombault (Indre).

Em seguida, os peregrinos assistiram à missa no rito tridentino no interior da Basílica, junto do altar da Cátedra, celebrada por Mons. Juan Rodolfo Laise, arcebispo emérito de San Luís, na Argentina.

O Papa Francisco, numa mensagem com a assinatura do Cardeal Pietro Parolin, enviou as suas “cordiais saudações” aos peregrinos, “que mantêm viva na Igreja a antiga liturgia romana”, desejando-lhes “um renovado enlevo ao testemunho da mensagem perene da fé cristã” e concedendo-lhes a bênção apostólica, penhor “de um caminho eclesial fecundo”.


III – EXCERTOS DAS HOMILIAS DOS CELEBRANTES



a) Mons. Guido Pozzo, presidente da Pontifícia Comissão “Ecclesia Dei”, sexta-feira, 23 de Outubro, em Santa Maria in Campitelli.


A grandeza da liturgia consiste não em proporcionar um divertimento espiritual, por mais aprazível que esse possa ser, mas em se deixar tocar pelo mistério de Deus que se nos torna presente, já que, pelas nossas meras forças, não conseguiremos aproximar-nos.

A celebração da Santa Missa no rito romano tradicional põe em evidência elementos e aspectos indispensáveis para nos fazer perceber a sacralidade do Rito, a presença real de Cristo, o carácter sacrificial da Missa, que é precisamente o sacrifício de Cristo. Tudo isto contribui para a construção do corpo de Cristo que é a Igreja.

A liturgia antiga não é uma relíquia do passado, mas uma realidade viva da Igreja que contribui para tornar actual o património de santidade e de oração que a Tradição nos transmite.

b) Mons. Luigi Negri, arcebispo de Ferrara e Commacchio, sábado, 24 de Outubro, em São Pedro.

Durante a missa celebrada por Mons. Juan Rodolfo Laise na Basílica de São Pedro em Roma, Mons. Negri proferiu uma belíssima homilia socorrendo-se de alguns apontamentos pessoais. O tema centrou-se no facto de que, nesso mesmo momento, se concluía o sínodo dos bispos: a fé, que nos impele a testemunhar com vigor aquilo de que, pela graça, somos feitos capazes, obrigando-nos assim a dizer “possumus”, mas que também nos leva a dar testemunho daquilo que não nos é permitido fazer em virtude da nossa fidelidade a Cristo, e nos obriga então a dizer também “non possumus” a uma sociedade secularizada que pretenderia erradicar a Igreja e o Evangelho.

c) Dom Abade Jean Pateau, abade de N-D de Fontgombault, domingo, 25 de Outubro, na igreja da Trinità dei Pellegrini.

Durante o baptismo, o sacerdote pergunta ao catecúmeno: ‘Que pedes à Igreja?’ E ele responde: ‘A fé.’ Resposta esta que deve corresponder ao firme propósito de uma vida inteira. O fracasso da esperança e da caridade deve-se muitas vezes a uma falta de fé, a uma perspectiva demasiado humana das situações, que esquece o abandonar-se ao plano de Deus.

O reconhecimento da realeza de Cristos pelos Estados, pelas Nações, começa pela aceitação desta realeza sobre cada um de nós. O motu proprio Summorum Pontificum de Sua Santidade o Papa Bento XVI permite-nos beneficiar em paz das riquezas litúrgicas da forma extraordinária. Ao nosso reconhecimento vem juntar-se um dever, que ouso resumir nesta questão: é a nossa fé tão extraordinária quanto o rito que celebramos? Recentrar a liturgia sobre Cristo não tem senão um objectivo: que cada um se torne um verdadeiro testemunho da realeza de Cristo, viver de Cristo e para Cristo, de tal maneira que todos deveriam poder dizer: “É Cristo que vive nele.”



IV – PALAVRAS DE ENCERRAMENTO PELO PE. CLAUDE BARTHE, CAPELÃO DA PEREGRINAÇÃO

(igreja da Trinità dei Pellegrini, após a Missa de Cristo-Rei, 25 de Outubro de 2015)

Temos de dar graças a Deus por tudo que houve por bem conceder-nos ao longo desta peregrinação junto do túmulo dos Apóstolos. E agradecer também a todos que contribuíram para que as cerimónias sagradas decorressem bem e com nobreza: o pároco desta paróquia, que para nós faz as vezes de São Filipe Neri, e todos os seus assistentes; os leigos que desde há muito foram tratando da organização do nosso itinerário; os mestres de cerimónias que permitiram que se vivesse na perfeição o espírito e a letra do Cerimonial Romano; os magníficos coros, a Schola Sainte Cécile e o coro Cantus Magnus, que para nós foram como os sinais sacramentais de graças, que poderíamos dizer contemplativas; e, claro está, todos os Reverendíssimos Prelados que se dignaram vir celebrar as nossas Santas Missas.

(e voltado para Dom Pateau)
Padre Reverendíssimo, Senhor Dom Abade, queremos expressar-lhe particularmente toda a nossa gratidão por nos ter acompanhado passo a passo ao longo destes dias, trazendo para o meio de nós, para Roma, o espírito romano de Fontgombault – Fontgombault que é chamado a ser, se é que posso ousar dizê-lo, o novo Cluny da nova reforma gregoriana que a “Ecclesia adflicta”, hoje atormentada como nunca, espera contra toda a esperança.

Em cada um destes dias, caros peregrinos vindos de todos os lados, pudestes experimentar uma grande emoção. É verdade que os dons de Deus não se podem medir, nem as graças que Ele pode conceder livremente a cada um, mas somos demasiado ligados à liturgia e demasiado devotos de São Filipe Neri para não sabermos que as moções invisíveis do Espírito dentro da alma se podem manifestar nestas moções sensíveis produzidas e reguladas pela beleza celeste da liturgia romana.

Que a Mãe do Grande e Eterno Pai , de Cristo Rei das Nações, Lhe implore por todas as nossas intenções.

A todos, até sempre, até ao próximo ano.



Padre Claude Barthe e padre Cuneo, mestre de cerimónias em São Pedro.