Carta 82 publicada a 21 agosto 2017

2007-2017: alguns números sobre a expansão da forma extraordinária do rito romano

«Abramos generosamente o nosso coração e deixemos entrar tudo aquilo a que a própria fé dá espaço»
Bento XVI, carta aos bispos que acompanha o motu proprio “Summorum Pontificum”, de 7 de Julho de 2007

Deo gratias! Faz agora dez anos que, após um longo ano de rumores e resistências, o Papa Bento XVI publicava o motu proprio “Summorum Pontificum”, restituindo à Igreja universal o uso do missal romano, herdado de São Gregório Magno, de São Pio V e de São João XXIII. Acompanhando este texto, o Papa endereçava uma carta aos bispos do mundo inteiro em que explicava os motivos do seu gesto. Por ocasião deste aniversário, não podemos deixar de vos convidar a relê-la, considerando o quão bem ela expõe a “razão positiva” que incitou Bento XVI a promulgar “Summorum Pontificum”, a saber: «chegar a uma reconciliação interna no seio da Igreja». Este objectivo è também aquele que a nossa carta se esforça por promover, número após número, convencidos como estamos de que a sobrevivência e a renovação das nossas paróquias passa pelo regresso duradouro e estável da paz litúrgica.

Mau grado os ataques de que o texto de Bento XVI foi e continua a ser alvo por parte daqueles que Mons. Pozzo qualificou recentemente como «neomodernistas» (em entrevista ao jornal francês “L’Homme Nouveau”), o motu proprio continua a enraizar-se na vida da Igreja. Como acção de graças, optamos simplesmente por vos anunciar alguns números que ilustram a expansão da forma extraordinária do rito romano desde 2007.




I – Nos Estados Unidos e na Grã Bretanha


a) Nos Estados Unidos
Os únicos dados de que dispomos são os da Coligação em defesa da “Ecclesia Dei” (veja aqui o site), que mostram que, em Julho de 2017, havia um pouco mais de 480 lugares de culto diocesanos nos Estados Unidos (excluindo a FSSPX), contra os cerca de 230 em 2007. Além desta duplicação da oferta, há sobretudo um verdadeiro “boom” de fiéis e um grande dinamismo dos grupos tradicionais. Mais um punhado de bispos que abraçaram plenamente o motu proprio e o integraram generosamente na sua pastoral ordinária.
Há também um formidável trabalho de formação de sacerdotes, tanto no seminário da Fraternidade São Pedro em Denton (Nebraska) como pelos cuidados dos cónegos de Câncio (Chicago), que, desde 2007, organizaram mais de 70 sessões de formação, destinadas a mais de 1200 sacerdotes.

b) Na Grã Bretanha
Foi um acontecimento histórico o que teve lugar sábado, 17 de Junho de 2017, na arquidiocese de Liverpool: pela primeira vez, desde a reforma litúrgica, celebraram-se na Grã Bretanha ordenações segundo a forma extraordinária do rito romano. Dois sacerdotes da Fraternidade São Pedro, os Padres Alex Stewart e Krzysztof Sanetra – um inglês e um polaco –, receberam o sacerdócio das mãos de Mons. McMahon, arcebispo de Liverpool.
Por entre as razões por detrás deste dinamismo sacerdotal e episcopal na Grã Bretanha, cumpre citar em primeiro lugar a “Latin Mass Society” (LMS), que, todos os anos, dá formação a novos sacerdotes para a celebração da forma extraordinária e acompanha e apoia os que já a celebram.
De acordo com os números que a “Latin Mass Society” nos cedeu, há 147 lugares de culto que, em Inglaterra e no País de Gales, oferecem hoje a forma extraordinária, contra os apenas 10 em 2006: «Os progressos desde 2007 são evidentes, explica Joseph Shaw, presidente da LMS, e são confirmados quando se repara na assistência global a essas missas. Não dispomos de uma estatística a este respeito, mas é notório que a maior parte das comunidades foram crescendo ao longo dos anos, em especial desde que a forma extraordinária faz parte da vida normal das paróquias, como acontece com os oratorianos e os institutos “Ecclesia Dei”.»

II – Alhures, mundo afora

a) Em França
A 7 de Julho de 2017, a fazer fé no anuário do Baptistério (veja aqui o site), identificamos em França 221 missas dominicais semanais celebradas na forma extraordinária do rito romano, contra 104 em Setembro de 2007. Se a essas juntarmos as missas da Fraternidade São Pio X (FSSPX), que aumentaram ligeiramente nesse mesmo período e são pouco mais de 200, obtemos cerca de 430 lugares em que se pode santificar o domingo com o missal de São João XXIII. 430 para as mais de 42.000 igrejas e capelas que se podem encontrar em solo francês (número fornecido em Setembro de 2016 pela Conferência Episcopal Francesa), o que não perfaz mais de 1%: a margem de crescimento é ainda grande...

b) Na Alemanha
De acordo com a “Pro Missa Tridentina” (veja aqui o site), há hoje 153 lugares de culto diocesanos além-Reno, contra os cerca de 35 de há 10 anos. 54 dentre eles oferecem a Missa todos os domingos e dias de preceito. Num país onde a hierarquia da Igreja (tanto a eclesiástica como aquela laica), na sua maioria, remou contra a obra do Cardeal Ratzinger, e depois contra aquela de Bento XVI, é um resultado retumbante!

c) Na Polónia
Em 2007, a Polónia não contava com mais de 5 missas dominicais semanais segundo a forma extraordinária do rito romano. Segundo os números comunicados pelo portal UnaCum.pl, há agora 40 para um total de 118 lugares de culto (contra apenas 9 em 2007). Em Julho de 2017, 26 das 41 dioceses oferecem já, pelo menos, uma missa dominical semanal segundo os livros litúrgicos em vigor em 1962.
Esta inesperada difusão do motu proprio num país que escapou aos piores abusos pós-conciliares levou-nos a retomar aí a nossa campanha de sondagens internacionais, que realizáramos entre 2009 e 2011. Não tardaremos a apresentar publicamente os resultados deste inquérito exclusivo.

d) Em Itália
No seu caderno de Junho dedicado ao décimo aniversário do “Summorum Pontificum”, o jornal mensal “Il Timone” anuncia 103 grupos estáveis de fiéis presentes na península itálica. Confiando nos dados do “Coordinamento Nazionale del Summorum Pontificum” (veja aqui o site), detectamos 107 lugares de culto abertos à forma extraordinária do rito romano, dos quais 56 oferecem uma missa dominical semanal (1). Se considerarmos que a Itália conta com 200 dioceses, é ainda pouco, mas, em comparação com 2007, é um grande avanço, pois nessa época não havia seguramente mais de 30 lugares de culto, dos quais apenas uma dúzia com uma missa ao domingo.

III – Mas... os números não são tudo

Por um lado, há que ter em conta esses milhares de sacerdotes e seminaristas que, por todo o lado no mundo inteiro, descobriram esta missa e aprendem a celebrá-la. Por outro lado, o que se nota neste primeiro decénio de vida do motu proprio – e, neste sentido, trata-se realmente de uma “nova missa”, que Bento XVI propôs às paróquias –, é que a forma extraordinária do rito romano está cada vez mais viva na Igreja, desde a Escócia até ao México, e do Gabão à Indonésia.

«Jamais abrogada», mas, na prática, interdita, e apesar disso, a jovem liturgia latina e gregoriana recobrou vida e floresceu de novo em todos os lugares onde a pesada máquina eclesiástica deixa o Espírito soprar. E como em numerosos países o aparelho eclesiástico se vê na iminência de se tornar consideravelmente mais leve, apostamos que a forma extraordinária terá pela frente muitas sacristias, presbitérios, naves, coros altos e bispos, para conquistar...

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(1) Em dez outros lugares, os grupos de fiéis contentam-se com a missa antecipada para sábado à tarde, que, segundo juízo da Comissão “Ecclesia Dei”, permite cumprir o preceito dominical.