Carta 13 publicada a 15 janeiro 2011

Um outro olhar sobre os três anos do motu proprio

Desde o Verão que numerosos balanços foram propostos acerca dos primeiros três anos de aplicação do motu proprio Summorum Pontificum. De facto, na carta que acompanhou o MP, o Santo Padre convidava os bispos de todo o mundo «a elaborar para a Santa Sé um relatório sobre as vossas experiências, três anos depois da entrada em vigor deste Motu Proprio». Assim, por exemplo, é com este espírito que a Federação Internacional Una Voce apresentou recentemente o seu terceiro relatório anual às autoridades romanas.

Apoiando-se sobre o trabalho realizado no Verão passado pela nossa edição francesa, no início deste ano de 2011, a Paix Liturgique propõe-vos um estudo dos números relativos a estes três anos em que vimos a liturgia tradicional fazer o seu regresso à vida da Igreja universal. Deixando de lado a questão das celebrações recusadas aos fiéis, que muito frequentemente tem sido polémica, optámos por não considerar senão as missas efectivamente celebradas de acordo com o motu proprio Summorm Pontificum.

O nosso estudo versa sobre perto de 30 países de entre aqueles onde o catolicismo se encontra mais implantado. Não se trata de uma simples contagem, mas de uma classificação das celebrações na forma extraordinária do rito romano de acordo com o respectivo horário e regularidade. De certo modo, trata-se de um balanço qualitativo mundial da aplicação do motu proprio de 7 de Julho de 2007.

O ponto de referência escolhido é a missa dominical semanal celebrada em horário de tipo familiar. Pois, para que a missa seja o coração da vida dos fiéis, carece que eles possam assistir à mesma juntos. É por isso que, não obstante as diferenças culturais de país para país, decidimos considerar a faixa horária das 9h às 12h como o horário familiar “universal”.


I – O estado das missas existentes



Tendo-se detido a 14 de Setembro de 2010, ou seja, à data do aniversário dos três anos da entrada em vigor do MP, o nosso estudo versa sobre os seguintes países: Espanha, Portugal, Irlanda, Suíça, República Checa, Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, Polónia, França, Benelux, Hungria, Áustria, Canadá, EUA, México, Colômbia, Chile, Brasil, Argentina, Austrália, Índia, Filipinas, Nova Zelândia, África do Sul, Gabão, Nigéria.

Para cada país, fizemos uma comparação entre pelo menos duas fontes, entre as quais sempre pelo menos um blog ou un site da internet locais.

No total, contabilizámos 1444 lugares de celebração da forma extraordinária do rito romano:
- 340 oferecem no máximo uma missa por semana
- 313 oferecem no máximo uma missa dominical mas a um ritmo irregular e não semanal
- 324 oferecem a missa todos os domingos mas num horário não familiar
- por fim, 467 oferecem a missa dominical semanal num horário familiar.

Há pois (quadro 1) 1 missa num horário familiar por cada 3 lugares de missa (32,3%), o que o gráfico 1 torna bem patente. Naqueles lugares, claro está, é possível que sejam também celebradas outras missas e noutros horários. Para cada um dos lugares de missa, tomou-se em consideração somente aquela missa celebrada nas melhores condições quanto ao dia e ao horário de celebração. Aí, vemos igualmente que 1 em cada 4 lugares de missa não oferece qualquer missa dominical.

Para tornar a aplicação do MP mais eficaz e para satisfazer mais generosamente as necessidades dos fiéis, esta contabilização deixa transparecer que existe uma margem de progressão passível de ser facilmente explorada: transformar as 313 missas dominicais não regulares em missas dominicais semanais, e, além disso, colocar as 324 missas dominicais semanais celebradas em horários difíceis num horário familiar!


II – Relação com as celebrações da FSSPX

Ainda é frequente, demasiado frequente, e não apenas entre os adversários do motu proprio, ouvir-se que a instituição por Bento XVI da liturgia tradicional como “forma extraordinária do rito romano” teve em vista contentar os “lefebvristas”.

Convencidos, não apenas de que o Sumo Pontífice promulgou o MP porque «faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar», como ele mesmo escreveu na carta dirigida aos bispos de 7 de Julho de 2007, mas também de que a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X (FSSPX) não representa mais do que uma minoria dos fiéis sensíveis à liturgia de São Gregório Magno, quisemos medir a relação entre o número de celebrações sob a égide da FSSPX e aquele dos lugares de missa em plena comunhão com Roma. É a relação que aparece traduzida no quadro 2 e no gráfico 2.

Para 1444 lugares de missa “romanos” o nosso estudo contou 690 lugares de missa FSSPX. Isto é, 2 missas romanas para cada missa “lefebvrista”. Num espaço de três anos, a forma extraordinária já conseguiu tocar um público mais amplo do que o que está ligado à FSSPX. Claro está que uma parte deste público é anterior ao MP de 2007 e já beneficiava dos serviços das comunidades Ecclesia Dei. Nem por isso o resultado é menos eloquente.



No entanto, se tomarmos em consideração as missas dominicais em horário familiar, a ratio é menos convincente, uma vez que a FSSPX oferece 332 missas em face das 467 missas “romanas”. O atraso que pusemos em evidência na nossa reflexão precedente vê-se pois confirmado aqui, mercê do empenho pastoral que a FSSPX põe ao serviço dos seus fiéis.

Será esse um dos eixos do trabalho da Paix Liturgique em 2011, o de ajudar a ultrapassar este atraso fazendo da missa dominical em horário familiar o justo metro para medir uma aplicação verdadeiramente caridosa e fraterna do MP Summorum Pontificum.