Carta 19 publicada a 25 julho 2011

Sondagem de Paix Liturgique em Espanha: o Motu Proprio, desconhecido mas desejado!

De 16 a 21 de Julho, Madrid acolherá o EMJ. O Santo Padre estará aí a partir do dia 18 e celebrará a missa para os seminaristas no sábado, dia 20, e a missa de encerramento no dia 21. Foi este acontecimento que nos incitou a completar com um inquérito em Espanha a nossa campanha europeia de sondagens acerca da recepção do motu proprio Summorum Pontificum. Tendo sido confiada ao instituto Ipsos, esta sondagem resulta de duas levas de entrevistas directas realizadas ao longo do mês de Junho. A responder foram 2000 espanhóis a partir dos 15 anos, dos quais 1265 se declararam católicos.


I – A FORMA EXTRAORDINÁRIA EM ESPANHA

Não é complicado de explicar: ela quase não existe! Até ao mês de Julho de 2007, as missas tradicionais dominicais contavam-se pelos dedos de uma mão, Fraternidade de São Pio X incluída…

Hoje, celebra-se todas as semanas uma quinzena de missas dominicais diocesanas, mas frequentemente em horários pouco convenientes para as famílias (8h30, 13h, 19h30). Vemos no entanto que se vai desenhando uma dinâmica, levada a cabo por grupos de peticionários, muitos deles jovens, e de sacerdotes, desejosos de alinhar o passo com o Santo Padre e com o Cardeal Cañizares, prefeito da ongregação para o Culto Divino e antigo arcebispo de Toledo (ver a nossa carta 180).

O carácter marginal da liturgia em Espanha tem que ver com o contexto histórico e cultural em que aí se acolheu a reforma conciliar. De facto, franquismo “oblige”, o catolicismo era ainda a religião de Estado quando o Novus Ordo entrou em vigor. A ninguém, leigo ou clérigo, ocorreu então contestar o missal de Paulo VI, tanto mais que no início a sua liturgia foi aí celebrada com toda a reverência e a dignidade que caracterizavam a liturgia tridentina. E por fim, a mais disso, é óbvio que a atitude adoptada pelas congregações fortemente implantadas no reino, como o Opus Dei — ainda que Mons. Escrivá tenha continuado a celebrar a missa tradicional em privado — ou os Jesuítas, também veio jogar a favor da adopção unilateral da liturgia moderna.


II – OS RESULTADOS

A) O primeiro fenómeno a ser medido pelo nosso inquérito é o da continuada descristianização das velhas nações católicas, à qual o país dos Reis Católicos também não escapa: só 63% dos inquiridos se declararam católicos, número que cai para 45,1% na faixa dos 15 aos 24 anos. Vemos portanto que aquém-Pirinéus, os jovens católicos estão em minoria, o que vem dar uma importância particular ao EMJ de Madrid, acontecimento este que, provavelmente, o Santo Padre não deixará de colocar sob o signo da nova evangelização.

Além disso, a nossa sondagem traz à luz que 13,9% dos católicos espanhóis declaram ir à missa todos os domingos, e 11,3%, pelo menos uma vez por mês. Isso representa apenas 25,2% de praticantes, o que é mais um reflexo da secularização galopante da Velha Europa.

B) Os católicos espanhóis ignoram o motu proprio Summorum Pontificum. Em 1265 que se declararam católicos, somente 231, ou seja, 18,3%, disseram ter ouvido falar do texto de Bento XVI que liberalizou a missa tradicional. O que quer dizer que mais de 80%, mais de 4 católicos por cada 5, nada sabem a este respeito. Um resultado ainda pior do verificado em Portugal onde “somente” 74%, ou seja, 3 católicos por cada 4, afirmavam não ter conhecimento do motu proprio.
Por entre os praticantes pelo menos mensais (25,2% do conjunto dos católicos), o número é menos catastrófico, pois são 30,5% os que conhecem a existência do motu proprio, contra 69,5% que o ignoram.

C) 36,1% dos católicos praticantes consideram que seria “normal” a presença das duas formas do rito romano no seio das suas paróquias. Tendo em conta o desconhecimento dos Espanhóis acerca do motu proprio, este resultado demonstra que, espontaneamente, estes católicos ibéricos estão prontos a acolher a reconciliação litúrgica desejada pelo Sumo Pontífice. Este estado de espírito assume particular relevância na faixa dos 25 aos 44 anos, na qual são mais de 40% os que acham normal a coexistência das duas formas litúrgicas.

D) Por fim, no que toca à atitude a respeito da celebração da forma extraordinária:
- 27,4% dos praticantes declaram-se dispostos a assistir à missa nessa forma todas as semanas
- e 23%, ao menos uma vez por mês.
Assim, 50,4% dos praticantes, ou seja, precisamente a metade dos praticantes espanhóis, assistiriam à liturgia tradicional na sua paróquia se ela aí lhes fosse proporcionada sem que viesse tomar o lugar da forma ordinária.

Este resultado, superior aos da França (34%, sondagem CS 2008) e da Suíça (35%, Demoscope 2011) é equivalente ao verificado m Portugal (53%, Harris Interactive) onde, recordemo-lo, 2 praticantes em cada 3 (66%) se declararam dispostos a participar na respectiva paróquia da missa segundo a forma extraordinária do rito romano.


III – AS REFLEXÕES DA PAIX LITURGIQUE

1) Em Espanha, como em todos os demais países onde encomendámos uma sondagem, os católicos são muito mais abertos à forma tradicional da liturgia do que os observadores podem imaginar. Para dizer toda a verdade, o facto é que depois de termos anunciado este projecto de inquérito, na nossa carta 264, muitos amigos nos preveniram de que «os resultados não iriam ser bons», que «a Espanha é um caso especial», além de outras daquelas advertências que estamos já habituados a escutar sempre que decidimos lançar uma nova sondagem.

Passámos por cima disso e, de facto, os resultados detectados pelo instituo Ipsos estão em perfeita harmonia com aqueles obtidos nos outros países que cobrimos até ao presente. Na verdade, não é que nos importe muito que os resultados sejam “bons” ou “maus” (aliás, eles sê-lo-ão pelo que revelam acerca do estado da fé em países de um catolicismo outrora exemplar), o que conta é o que eles vêm traduzir de um modo universal e coerente, a saber:
- o desejo por parte de uma grande fracção de católicos de viver a sua fé ao ritmo da forma extraordinária do rito romano;
- a vontade de obedecer a Roma e de ver desenvolver-se nas suas paróquias a reforma da reforma lançada pelo Santo Padre;
-a alegria de redescobrir um dos tesouros da Igreja, há tanto tempo interdito.


2) A nossa sondagem é muito esperada em Espanha, onde se pode ainda encontrar uma imprensa atenta à religião católica e onde os portais católicos de informação em linha são bem florescentes. E neste curto espaço de tempo, são já muitos os sites que já comentaram os primeiros resultados pormenorizados que comunicámos em exclusivo aos jornalistas de infocatolica.com. Vaticinamos pois que, muito em breve, nenhum prelado de além-Pirinéus irá ignorar que 50% dos católicos praticantes espanhóis estão desejosos de saborear nas suas paróquias o recíproco enriquecimento das duas formas do rito romano. E isto é importante num país onde, até hoje, só o arcebispo de Saragoça, Mons. Ureña Pastor, celebrou a liturgia tradicional na sua própria diocese. Com efeito, o cardeal Cañizares nunca a celebrou na sua diocese, ainda que já o tenha feito noutros locais, nomeadamente, em Roma.

3) Esta sondagem teve o custo de 6500 euros. Se desejar participar do seu financiamento e permitir-nos assim continuar o nosso trabalho de informação, poderá dirigir o seu donativo a Paix liturgique, 1 allée du Bois Gougenot, 78290 CROISSY-SUR-SEINE, passando o cheque à ordem de Paix liturgique,
ou fazer uma transferência bancária para:
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