Carta 73 publicada a 7 novembro 2016

Peregrinação Populus Summorum Pontificum: homilia do S.E.R. Mons. Alexander K. Sample

Homilia na Festa de Cristo Rei
Peregrinação Populus Summorum Pontificum
Santissima Trinità dei Pellegrini
30 de outubro de 2016




Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Enquanto chegamos ao final desta esplêndida peregrinação, durante a qual celebramos o Motu Proprio de Bento XVI que levou a uma maior disponibilidade da celebração da Santa Missa no usus antiquior, fazemo-lo novamente hoje na grande Festa de Cristo Rei. Somos todos muito gratos ao Papa Bento XVI por seu cuidado amoroso para com aqueles que amam esta forma antiga do Rito Romano e rezemos para que sua propagação tenha um efeito profundo e duradouro sobre o culto divino celebrado em ambas as formas.

Celebrando a Festa de Cristo Rei, a Santa Mãe Igreja nos lembra a centralidade do mistério de Cristo em nossas vidas como em nosso culto. Exaltemos o nosso Divino Salvador como o centro de toda a história humana e como Aquele que revela o verdadeiro significado e propósito de nossas vidas. Esse é o mistério que celebramos no Santo Sacrifício da Missa. Vamos reler o que São Paulo nos ensina sobre a plenitude de tudo o que Deus quer revelar-nos no seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Rei.

Jesus Cristo é a imagem do Deus invisível. Na Encarnação, Deus foi plenamente revelado a nós no Verbo Encarnado, Seu Filho Unigênito. Cristo é a manifestação visível da misericórdia divina em relação a nós, pobres pecadores. É conveniente recordá-lo por ocasião deste Ano Jubilar da Misericórdia. Em Cristo vemos a Misericórdia Encarnada. Ele está presente em cada Missa, especialmente no oferecimento do Santo Sacrifício e em Sua Presença Eucarística em Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Jesus é o primogênito de toda a Criação, presente na criação de todo o universo. Com uma trilogia esplêndida de expressões, São Paulo nos lembra que todas as coisas foram criadas no Verbo Encarnado, que Ele é precedente a todas as criaturas em Sua eternidade e que todas as coisas são mantidos juntas Nele. Cristo está no centro da vontade criadora de Deus Pai.

Cristo é a Cabeça do Corpo que é a Igreja. A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, Sua presença duradoura no mundo criado. Através da Igreja, Cristo continua Sua presença redentora no mundo. Somos todos membros individuais desse corpo, como São Paulo nos lembra ainda; e Cristo Rei é a Cabeça do seu Corpo Místico, sempre presente entre nós em Sua Palavra, nos sacramentos e na assembléia dos fiéis. Cristo nunca pode ser separado de Sua Igreja, ainda que alguns tentem fazê-lo. Não podemos ter Cristo sem a Igreja, pois Ele é eternamente e intimamente unido a Ela. Nós, o Corpo Místico de Cristo, somos inseparavelmente unidos a nossa Cabeça, Cristo Senhor. Como tal, a Igreja é sacramento universal de salvação do mundo.

Cristo é o primeiro entre os mortos. Ele precedeu e por meio de Sua morte e ressurreição tornou possível a nossa própria ressurreição dos mortos. Lá onde Ele foi, nós esperamos um dia segui-Lo. Sua Morte é a nossa redenção da morte, Sua Ressurreição nossa subida a uma nova vida.

Ele é o primeiro, e toda a plenitude permanece Nele. Em Sua Divindade unida para sempre à natureza humana no seio de Sua Virgem Mãe nada falta. Jesus é a plenitude daquilo que cada coração humano deseja. As coisas boas que buscamos nesta vida são apenas um reflexo pálido e desbotado da plenitude de beleza, bondade, alegria e perfeição que estão em Cristo. Cada busca virtuosa do homem é no fim das contas uma busca de Cristo.

Este é o Cristo, a quem honramos como Rei Universal. Mas Nosso Senhor nos lembra que Seu Reino não é deste mundo. Os discípulos não entenderam totalmente senão depois da Ressurreição e da descida do Espírito Santo no Pentecostes. Nós não o devemos nunca esquecer. Nós não vivemos para a completude e satisfação neste mundo, mas nós nos esforçamos para torná-lo cada vez melhor e semelhante ao reino de Deus. Somos apenas peregrinos de passagem por esta vida terrena no caminho para o Reino de Deus, o reino dos céus. Toda a nossa vida é uma preparação para a plenitude do Reino de Deus.

Este Reino, agora imperfeitamente presente na sua Igreja, é também o Reino da Verdade. É Nosso Senhor quem nos diz que a razão pela qual Ele nasceu e veio a este mundo é o testemunho da Verdade. Todos aqueles que Lhe pertencem ouvem e respondem a esta voz. Esta verdade revelada por Cristo é a verdade sobre Deus, sobre nós mesmos criados à Sua imagem e semelhança e sobre a salvação eterna que nos obteve a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Esta é a vida eterna que reconhecemos e vivemos na Verdade.

O mundo em que vivemos parece tornar-se cada dia mais secularizado e materialista. Não reconhece mais uma verdade que seja eterna e que envolva a todos. O Papa Bento cunhou a famosa expressão "ditadura do relativismo": viver sem a Verdade eterna de Deus é viver sem Cristo, na escuridão, na ignorância, na dúvida e no medo. Cristo veio para dar testemunho da verdade e para nos libertar das trevas do pecado e da morte e iluminar-nos com a Boa Nova de Sua misericórdia e de Seu amor. As primeiras palavras do Seu ministério público são "O Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho! "

Nós fomos transferidos para este Reino do Filho Amado de Deus, participando da redenção que Ele ganhou para nós, pelo Seu Sangue, fazendo-nos receber a remissão dos pecados. Como nos diz São Paulo, Cristo reconciliou todas as coisas consigo mesmo por meio do Sangue da Sua Cruz. Nós, em primeiro lugar, recebemos a graça desta redenção no dia do nosso batismo, lavados do pecado original e santificados pela graça de Deus.

Este mistério de nossa redenção se renova cada vez que participam na oferta do Santo Sacrifício da Missa. Cristo, que Se ofereceu a Si mesmo como Sacerdote e Vítima no altar da Cruz, Se oferece agora de modo sacramental e incruento através do ministério do sacerdote sobre os altares de nossas igrejas cada vez que a Santa Missa é celebrada.

Cristo Rei governa triunfante sobre a morte, mesmo quando pende da Cruz por nossa salvação. Seu mistério pascal, presente no Sacrifício Eucarístico do Seu Corpo e Sangue, é a fonte de nossa santificação contínua enquanto rendemos glória a Deus em nosso culto.

Esta realidade é poderosamente tornada presente em cada Missa, tanto na Forma Ordinária quanto na Forma Extraordinária do Rito Romano. Mas a Missa tradicional manifesta de forma particularmente clara e eloquente esta realidade com sinais, símbolos e palavras.

As orações da Forma Extraordinária, os gestos rituais e, especialmente, a orientação litúrgica do sacerdote no altar ressaltam a natureza sacrificial da Missa. Este é sem dúvida o culto que sacerdote e fieis oferecem a Deus Todo-Poderoso para Sua Glória e pela santificação de suas almas.

O Papa Bento reconheceu que a Forma Ordinária do Rito Romano, pelo menos como ele é celebrado em muitos lugares, perdeu uma parte da clareza do esplendor. Ele ensinou que nunca pode haver uma ruptura com a Tradição, mas que a autêntica reforma litúrgica deve ser realizada em clara continuidade com as precedentes tradições e formas da Sagrada Liturgia. É por isso que emitiu o Motu Proprio Summorum Pontificum, precisamente para reconciliar a Igreja com seu passado.

A esperança do Papa Bento era a de que as duas formas do Rito Romano pudessem e devessem enriquecer-se mutuamente, de modo que fosse possível novamente uma renovação autêntica da celebração da Santa Missa, denominada reforma da reforma da Sagrada Liturgia.

O objectivo de tal reforma não pode ser outro que o de tornar mais visível a soberania de Cristo Rei, enquanto Ele Se oferece pela nossa salvação em um mistério que se perpetua em cada Missa. Possa a Missa Antiga florescer na Igreja, de modo que muitos possam beneficiar-se desta forma do Rito Romano para a maior Glória de Cristo Rei, Nosso Senhor. A Ele sejam dadas toda a glória, louvor e honra por todos os séculos dos séculos! Amém!

S.E.R. Mons. Alexander K. Sample, Arcebispo de Portland