Carta 100 publicada a 16 novembro 2019
A LITURGIA TRADICIONAL, NORMA DE BELEZA, ORAÇÃO E REVERÊNCIA
Peter Kwasniewski, nascido em 1971 no Illinois, é uma das figuras mais marcantes do catolicismo tradicional americano, que, como bem sabemos hoje, é a linha da frente do renascimento católico, mostrando-se extremamente vigoroso e rico em vocações. Músico por vocação, Peter Kwasniewski recebeu também uma excelente formação filosófica (a sua tese de doutoramento versou sobre “L’extase d’amour chez Thomas d’Aquin”).
Publicou também numerosos artigos sobre filosofia, liturgia, música, em particular no que toca ao restabelecimento e à renovação da música sacra no seio da Igreja contemporânea, e ainda uma série de livros muito marcantes, tais como: Tradition and Sanity. Conversations and Dialogues of a Postconciliar Exile("Tradição e Sanidade. Conversas e diálogos de um exílio pós-conciliar"; Angelico Press, 2018) ; Noble Beauty, Transcendent Holiness: Why the Modern Age Needs the Mass of Ages ("Nobre beleza, santidade transcendente: Porque é que a Era Moderna precisa da Missa de todas as eras"; Angelico Press, 2017) ; Resurgent in the Midst of Crisis: Sacred Liturgy, the Traditional Latin Mass, and Renewal in the Church ("Ressurgimento no meio da crise: a sagrada liturgia, a Missa latina tradicional e a renovação na Igreja"; Angelico Press, 2015). Agradecemos-lhe muito vivamente que se tenha disposto a conversar conosco.
Paix liturgique – Muitos católicos não querem sequer conhecer a liturgia tradicional porque a consideram uma coisa do passado. Crê tratar-se de uma coisa do passado ou antes do presente, ou até mesmo talvez do futuro?
Peter Kwasniewski – Parece-me haver um problema fundamental quando se pensa na liturgia em termos de ser algo exclusivamente do passado ou do presente, ou aliás do futuro, porque os católicos sempre pensaram na liturgia como participando do agora eterno de Deus. Isto é, na liturgia encontramo-nos face a face diante dos mistérios de Jesus Cristo, que é o eterno Sumo Sacerdote, que vive e age no seio da Igreja neste preciso momento, pelo que a liturgia está sempre no momento presente. Todavia, como é óbvio, ela foi-nos dada por Nosso Senhor na Última Ceia, sendo assim a ratificação da Nova Aliança, o Seu Sangue sobre a Cruz. Por conseguinte, a liturgia está constantemente a olhar para trás, para o passado, e também para o futuro: está a olhar para a segunda vinda de Cristo, o escathon, a Jerusalém celeste. Assim, a liturgia é intemporal e está também ligada a cada momento do tempo. Uma parte do problema das revisões litúrgicas pós-conciliares está em terem tentado ligar a liturgia a um tempo particular, designadamente o tempo do homem moderno e a modernidade – seja lá o que for que modernidade quer dizer. De repente, viu-se aparecer um antagonismo entre a liturgia do passado e a liturgia do presente, e este é um antagonismo que é completamente estranho ao modo católico de olhar para a liturgia.
Paix liturgique – Sabemos que escreveu muito sobre a transcendência na liturgia tradicional. Como é que esta transcendência responde de modo particularmente adequado às expectativas do homem moderno, tão ocupado com as redes sociais e sem tempo para experimentar o silêncio?
Peter Kwasniewski – Se me é permitido usar uma metáfora, direi que a liturgia tradicional é um alimento nutritivo, cheio de vitaminas, de que o homem moderno tem falta. Falou de negócios e activismo. Nos tempos modernos, há uma clara tendência para o imanentismo. As pessoas estão mergulhadas nas suas actividades do dia-a-dia e estão encurraladas por elas, estão como que aprisionadas pelo mundo contemporâneo. Na verdade, a liturgia é a passagem, a porta que se abre para outro reino. Um reino que não é aprisionante, mas libertador. A liturgia tradicional provoca um encontro com a verdade eterna e realidades eternas que podem salvar o homem, e em particular o homem moderno, daquele cerco, daquela prisão. Outro aspecto que muitos têm realçado é o facto de que é próprio da natureza dos seres humanos serem extáticos: eles querem sair de si próprios, entregarem-se a si mesmos a uma causa. Querem entregar-se por amor a outra pessoa, e chegam a entregar-se a uma ideologia. A nossa vontade é de vivermos fora de nós mesmo, não queremos ficar encurralados dentro de nós. O homem moderno depara-se com muitos falsos êxtases: desde logo, as drogas são um óptimo exemplo disso mesmo, de pessoas que tentam escapar de si próprias, mas isso é falso, não conseguem, não passa de uma ilusão temporária de libertação. Ratzinger fala disto em diversos lugares. Outro exemplo são os concertos de rock… Há toda uma gama de experiências pseudo-litúrgicas e pseudo-místicas que as pessoas procuram, enquanto que o que a Igreja Católica oferece é a experiência mística real, uma real auto-transcendência, um êxtase real. E é por isso que a liturgia tradicional é hoje mais urgente do que nunca.
A Paix Liturgique levou a cabo em diversas partes do mundo várias sondagens de opinião que mostram que mais de 30% dos católicos de Missa dominical gostariam de viver a sua fé ao ritmo da liturgia tradicional. Isto surpreende-o? Acha que isto deveria surpreender os bispos diocesanos?
Peter Kwasniewski – A percentagem de 30% surpreende-me. Creio que seria ainda maior se os católicos tomassem conhecimento da liturgia tradicional. Muitos há que não têm conhecimento dela. Nas minhas viagens e debates, encontro-me com católicos que só agora se dão conta de que há outra liturgia além do Novus Ordo promulgado por Paulo VI. E compreendo o porquê: 50 anos após a propagação do Novus Ordo, a grande maioria dos católicos praticantes não têm outra coisa. Por outro lado, são os próprios bispos a subestimarem continuamente o número de católicos atraídos pela tradição em todas as suas manifestações. Querem acreditar que se trata apenas de uma pequeníssima minoria de católicos com uma espécie de fascinação de tipo estético, quando não com uma tendência para o que é inusual e estranho, uma espécie de excentricidade; é assim que tendem a pensar acerca dessa atracção. O que lhes escapa é que as pessoas, hoje, já não estão a pensar segundo os paradigmas dos anos 60 ou 70, onde parece que os bispos ainda estão presos.
A reforma litúrgica baseou-se num princípio primário, o de que a única maneira de a liturgia ser acessível às pessoas e de estas nela poderem participar é através de uma compreensão verbal e racional; foi esse o princípio básico motor de tudo o resto. Assim sendo, como pretendamos que as pessoas compreendam tudo o que acontece na Missa, lá teremos de a simplificar, de a abreviar, teremos de a dizer em vernáculo, temos de dizer tudo em voz alta, tudo tem de ser alto e bom som. E tudo isto se faz ao serviço da comunicação de um conteúdo racional conceitual às pessoas sentadas nos bancos. É esse, sem tirar nem pôr, o princípio por detrás da reforma. Os jovens, hoje, se têm fé ou se estão à procura de Deus, no começo, não estão a tentar encontrar um conteúdo racional. Poderá ser que mais tarde venham a estudar teologia, mas aquilo de que estão à procura é o sentido de que há algo mais nesta vida e no mundo para além do que os olhos podem ver, do que se vê nos media, algo para além da experiência da nossa vida do dia-a-dia. Querem que a sua visão seja aberta para qualquer coisa, diria mesmo, para qualquer coisa de celestial. Será que o céu existe realmente? A liturgias deveria ser uma prova de que ele existe de facto, e se o não é, é apenas mais conversa. E então, é mais do mesmo, do mesmo que se pode encontrar em todo o lado. O mundo já está inundado de conversa. Percebe-se, assim, que os bispos pertencem a uma geração que partiu do princípio de que a liturgia tinha só a ver com uma compreensão racional conceitual; e é isso que significa a participação. Estão realmente a leste e estão a perder o comboio; hoje em dia, a questão já não está aí.
Paix liturgique – Ao longo da sua vida, viu pessoas a mudarem de opinião acerca da missa tradicional, isto é, que a odiavam e passaram a amá-la? E poderia dar-nos o seu testemunho acerca dos frutos espirituais ou dos benefícios que os fiéis recebem da Missa antiga?
Peter Kwasniewski – O que, em geral, vi foi que todos os católicos sérios em matéria de doutrina, sérios no que toca a viver uma vida moralmente direita e a uma vida pessoal de oração, agarrados à recitação do terço, esses são naturalmente atraídos pela liturgia tradicional. Mal a descobrem, mostram-se abertos a ela, porque já vivem de uma maneira que está de acordo com a liturgia tradicional. A liturgia tradicional é profundamente doutrinal, ela põe os dogmas da Igreja num pedestal, e é ascética e exigente. Assim, se estiver a tentar viver uma vida moralmente direita, a liturgia tradicional vai apoiá-lo nisso e vai-lhe fazer exigências que são de tipo moral. Penso, por isso, que existe uma adequação natural entre uma vida católica séria e a liturgia tradicional.
É óbvio que também se pode viver uma vida católica séria de outras maneiras, noutros contextos, mas creio que ali existe uma harmonia e uma abertura. Já não noto hostilidade contra a Missa tradicional a não ser entre pessoas que se autointitulam liberais ou progressistas, que têm um plano a cumprir, essas fazem uma oposição ideológica. Mas, curiosamente, estas pessoas opõem-se porque ela expressa uma visão dogmática, moral e cósmica do mundo que é antitética em relação ao seu paradigma liberal e progressista; por isso, o que vêem nela é uma ameaça ao conjunto do “projecto Vaticano II”.
Já no que toca aos frutos espirituais, tenho dito amiúde que, na realidade, nunca soube como rezar durante a Missa até que comecei a ir à Missa antiga. Em toda a minha experiência de católico enquanto ia crescendo, sempre partira do princípio de que a oração litúrgica mais não era do que uma espécie de superficial vai-e-vem entre o sacerdote e o povo, cantar umas quantas canções, e tudo muito pela superfície como quando se patina sobre o gelo. Depois, ao começar a frequentar a liturgia tradicional, era já como um mergulho em mar alto: temos de vestir o equipamento de mergulho e penetrar bem em profundidade no oceano. Há aí uma profundidade, uma profundidade sem fim, que é o que explica porque é que eu e muitos dos meus amigos nunca nos cansamos de ir à Missa tradicional, estamos sempre ansiosos de lá voltar. Onde quer que ela seja celebrada, queremos ir lá. Já com o Novus Ordo, começamos a sentir falta de entusiasmo e torna-se mais fácil acabar por não ir, porque dele se tira menos benefícios.
Paix liturgique – Em que é que se pode ver que o sacrifício sacramental parece ser melhor exprimido pela Missa tradicional?
Peter Kwasniewski – A Missa é a re-presentação sacramental do sacrifício oferecido por Nosso Senhor do Seu Corpo e do Seu Sangue, sobre a cruz. Isto não é apenas uma opinião, nem é apenas um ponto de vista escolástico, é o ensinamento dogmático de fide da Igreja proferido pelo Concílio de Trento. Por conseguinte, nesse sentido, a liturgia não é primeiramente uma refeição, não é primeiramente a comemoração da ressurreição, nem algo relativo primariamente ao Corpo místico de Cristo. É sim o sacrifício que torna possível o Corpo místico de Cristo. É o sacrifício que, obviamente, em certo sentido, é cumprido na ressurreição e glorificação de Cristo. Todavia, na realidade, a Missa põe-nos em contacto com o Sangue de Cristo redentor que nos salva. É disso que precisamos para sermos salvos, é isso a nossa salvação. Por isso, é de grande importância para a liturgia que ela nos possa comunicar que é esse o mistério. O mistério primário da Eucaristia, como nos diz São Tomás, é Christus passus, Cristo que sofreu pelos nossos pecados. É com isso que que a liturgia nos põe misticamente em contacto, põe-nos realmente em contacto sob o véu do pão e do vinho.
Se, no seu aspecto exterior, a liturgia der ideia de algo completamente diferente disso mesmo, ou se primariamente se assemelhar a um banquete, uma refeição fraterna, então estará a despistar-nos e a induzir-nos em erro, e está, de facto, a dar-nos uma catequese falsa acerca do que estamos lá a fazer. Não há dúvida de que o rito antigo, não só pela orientação para Leste (que também se pode ter na nova Missa), mas em todos os seus aspectos, em especial no ofertório da Missa e nos gestos, nas cerimónias, põe uma grande ênfase no altar do sacrifício. Claro que a Missa também é um banquete, mas é um banquete sacrificial, é primeiro um sacrifício e só depois é tomamos parte na vítima sacrificial. A prioridade está sempre em oferecer a Deus a oblação pura do Cordeiro de Deus e, só depois, é que, se estivermos em estado de graça, podemos ter o privilégio de tomar parte desse banquete sacrificial, desse oferecimento sacrificial.
Paix liturgique – Jamais, em toda a história da humanidade, houve tantas pessoas tão afastadas do lugar onde nasceram, seja por habitarem noutro país seja simplesmente por estão em viagem. Não será que a Missa em latim não poderia servir de objectivo pastoral ao tornar possível que cada um tenha a “sua” Missa, ainda que a ela assista noutro país? Acha que podemos dizer que a Missa em latim esteve ao serviço do objectivo do “mundialismo” nas épocas antigas?
Peter Kwasniewski – Não há qualquer dúvida de que, se olhar para a civilização europeia – e aqui, estou a falar da Europa Ocidental, e não tanto da Europa Oriental, que tem uma sua própria história –, a presença da fé Católica Romana, do Rito Romano e de vários outros usos relacionados com o Rito Romano, além da língua latina, foram grandes forças unificadoras que permitiram que as pessoas pudessem comunicar entre elas. Isto serviu de fertilizante para as artes e para a vida intelectual através duma multiplicidade de fronteiras de terras e de línguas. Vejo uma suprema ironia no facto de que no século XX, no preciso momento em que a aviação permitia que as pessoas viajassem com mais facilidade do que nunca, e os automóveis se tornavam omnipresentes, nesse preciso momento em que as pessoas já viajavam com grande frequência, de repente, se tenha decidido vernaculizar a liturgia e, de facto, excluir quem quer que não fosse de uma dada comunidade local.
Nos meus anos mais tenros, tive ocasião de viajar bastante, antes de tomar conhecimento da Missa em latim. Então, ia à igreja, ao Novus Ordo, qualquer que fosse a língua aí falada, e quase não entendia o que quer que fosse. Entendia “Amém” e pouco mais. É verdade que, como disse antes, não se pode reduzir a uma compreensão racional, mas é muito frustrante ir a uma liturgia que se supõe girar em torno de palavras, como é o caso do Novus Ordo, e depois acabar por não entender palavra alguma. Ironicamente, se alguma vez houve uma liturgia que devesse ser em latim, é precisamente o Novus Ordo, porque, a não ser assim, acaba por se excluir muitas pessoas. Um outro ponto é que é igualmente irónico que, num momento da história mundial em que há mais pessoas a saber ler e escrever do que nunca, e em que todos, se o quiserem, podem facilmente ter acesso a saber o que é que as orações significa, nesse momento decidiu-se: «De maneira nenhuma, o que temos é de pôr tudo numa linguagem vernácula de todos os dias, em vez de continuarmos a usar esta linguagem de refinada poesia e teologicamente rica que as liturgias sempre usaram. O que temos de fazer é simplificar tudo.» Mas porquê? Parece-me que temos aqui mais um exemplo de juízo histórico errado e de confusão cultural por parte do reformadores da liturgia.
Paix liturgique – Em geral, as pessoas começam por conhecer a Missa tradicional, depois vem o canto gregoriano, mas no seu caso foi ao contrário. Na sua opinião, a música sacra pode desempenhar um papel na renovação litúrgica?
Peter Kwasniewski – Exactamente! Tem toda a razão: eu cheguei à liturgia tradicional através da música sacra e, em particular, por meio do canto gregoriano. Nunca tinha assistido ao culto em latim antes de ter descoberto o canto gregoriano, mais, nunca me tinha passado pela cabeça rezar em latim. Assim que, até mesmo o facto de me dar conta do latim enquanto língua, no meu caso, ficou a dever-se ao canto gregoriano. A beleza do canto fascinou-me, tomou conta do meu coração e inspirou-me. No começo, nem sequer vi nele uma linguagem musical, e também não reparei no texto latino, mas compreendia que havia aí algo de esplendoroso, de divino, algo de muito especial e diferente, e tudo isso me fascinava. É como diz Rudolf Otto: o «mysterium tremendum et fascinans». Há nesse canto algo de extremamente poderoso e como de um outro mundo. Foi esse, ao princípio, o anzol que agarrou este peixe.
Quando descobri a liturgia tradicional, aquilo de que imediatamente me apercebi foi que a liturgia tradicional tinha crescido juntamente com o canto; o canto e o Rito Romano são como corpo e alma, há entre ambos uma relação muito próxima. Não aconteceu que primeiro tenha aparecido a liturgia me que depois tenha aparecido alguém que lhe tenha juntado o canto como se junta uma roupagem exterior. O que aconteceu, sim, foi que a liturgia romana e o canto cresceram juntos, de mão dada. O canto gregoriano é a liturgia romana cantada. Por isso, bem cedo me dei conta de que o canto encaixava, que ali, na liturgia tradicional, estava como em sua casa. Aí, tem espaço suficiente para respirar, e o timing adequado, o ritmo da liturgia é calculado à perfeição, os cantos têm a duração justa para cobrirem as acções que devem ser acompanhadas, e os textos do canto são perfeitos para esses momentos.
Há, portanto, aqui uma estreitíssima adequação entre música e liturgia. O mesmo acontece com a polifonia: a grande polifonia pode ser composta porque há lugar para ela nesta liturgia. Como o ofertório leva tempo, os grandes compositores puderam escrever motetes para esse lapso de tempo. O Novus Ordo é tão racionalístico e tão verbal e breve, que o canto gregoriano e a polifonia se mostram sempre inadequados. Parecem ser sempre uma espécie de interrupção e de atraso. Por exemplo, quando se está numa Missa Novus Ordo e chega o momento de uma leitura em vernáculo feita por um leitor leigo de frente para o povo, e, em seguida, depois que todos responderam dizendo “Graças a Deus”, a schola começa então a cantar uma peça de gregoriano em latim – o Gradual –, é tudo muito estranho, não encaixa bem. Enquanto que, na liturgia tradicional, o que notamos é um fluxo natural das coisas, onde tudo parece estar no seu lugar e tudo encaixa. Por isto mesmo, parece-me que, para as pessoas do mundo moderno reaproximar-se da beleza da música sagrada é praticamente equivalente a uma reaproxiamação da liturgia tradicional. Não quer isso dizer que não devamos utilizar o canto e a polifonia em todas as liturgias, mas apenas que que o gregoriano e a polifonia têm na liturgia tradicional o seu habitat natural.
Paix liturgique – Um último apontamento: poderia deixar-nos uma mensagem para as jovens famílias que estão preocupadas em conseguir preservar-se e preservar os seus filhos de toda a confusão que reina na sociedade actual?
Peter Kwasniewski – Diria que nada há de mais importante para as famílias católicas jovens do que conseguir encontrar uma boa comunidade de católicos fiéis com um espírito tradicional. E mais, que façam todos os esforços que seja preciso para levarem a sua família a essa igreja junto dessa comunidade, porque todos aí frequentarão a liturgia pelos motivos certos: o que pretendem é glorificar a Deus, santificar as próprias almas, iniciar as suas crianças ne beleza e riqueza da tradição católica – e assim, poderão encontrar outras pessoas que pensam como eles que passarão a ser seus amigos e uma rede de apoio; e as suas crianças encontrarão aí outras crianças com quem brincar com toda a segurança e que não é provável que passem o seu tempo a ver vídeos tremendos e outras coisas desse género. No mundo moderno, temos de ser muito realistas e não podemos partir do princípio de que a maioria dos lugares continuam a ser lugares seguros. Na verdade, a maioria dos lugares são hoje lugares perigosos, de um ponto de vista moral.
De um ponto de vista intelectual, acrescentaria ainda que como o erro e a depravação são a norma na sociedade ocidental moderna, é preciso que façamos o esforço, mesmo se isto custa algum incómodo, de ir à procura de comunidades onde a norma seja a beleza, a oração e a reverência. E é isso precisamente que encontramos na liturgia tradicional.